Dados do Observatório Obstétrico contribuem para instituir políticas de combate à covid-19

A taxa de mortes de gestantes e puérperas por covid-19 no Espírito Santo é a segunda maior do país. Foto: Mart Pro/Pexels
Compartilhe:

– Por Noélia Lopes* –

A taxa de mortalidade de gestantes e puérperas por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) aumentou em 2021, em comparação com 2020. Mais de 90% dos casos de SRAG são motivados pelo novo coronavírus, desde o início da pandemia de covid-19. Até o dia 15 de setembro deste ano, 12,9% dos casos de SRAG nesse grupo resultaram em mortees, um total de 1.409 óbitos. Em 2020, foram 6,7%, com 460 óbitos. Os dados, levantados pelo Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 (OOBr Covid-19), desenvolvido por pesquisadoras da Ufes, têm contribuído para elaborar políticas públicas para essa população. 

“Começamos a divulgar os dados exatamente pela urgência, por ver a gravidade da doença na população materna, e também por entender a importância dos dados para a discussão de políticas públicas para o grupo durante a pandemia”, afirma a professora do Departamento de Estatística da Ufes Agatha Rodrigues, que é uma das coordenadoras do projeto.

A apresentação dos dados na plataforma, a partir de abril de 2021, levou ao questionamento do porquê da letalidade da covid-19 na população materna, o que repercutiu na discussão de políticas públicas para esse grupo. Dentre as medidas adotadas estão a Lei nº 14.151/2021, que instituiu o home office para gestantes e puérperas a partir de maio, e a Lei nº 14.190/2021, sancionada no final de julho, com a prioridade para a vacinação desse público.

“Mostrando as informações, foi possível que as secretarias municipais e estaduais corrigissem dados equivocados, o que pode acontecer por erro de digitação. Ao dar visibilidade para esses erros, você permite que as secretarias entendam e percebam as diferenças entre os dados”, acrescenta Agatha Rodrigues.

Observatório Obstétrico

O OOBr Covid-19 é um subprojeto do Observatório Obstétrico Brasileiro, plataforma de dados desenvolvida para auxiliar os gestores do estado nas tomadas de decisões que envolvam a saúde materna, fetal e infantil, desenvolvido em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e a Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens), com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), da Fundação Bill & Melinda Gates e do Governo Federal.

Atualizado semanalmente com informações sobre gestantes e puérperas obtidas no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), o sistema apresenta, gratuitamente, os números relativos aos casos mais graves, as taxas de admissão ou não na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a taxa de internação por SRAG, os números de óbitos, além de um panorama da vacinação das gestantes e puérperas. 

A plataforma apresenta, também, dados por estado, onde é possível verificar que São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais lideram o número de óbitos – já o Espírito Santo é o quarto estado com menos óbitos. No entanto, em números percentuais, o Espírito Santo é o segundo do Brasil com mais casos de gestantes e puérperas com SRAG que resultam em mortes (34,85%), ficando atrás apenas de Roraima (58%).

Sobre a vacinação no Brasil, foram imunizadas, até 20 de setembro, 908.073 gestantes e puérperas com a primeira dose e 471.276 com a segunda. No Espírito Santo, 27.659 mulheres desse grupo receberam a primeira dose e 15.412, a segunda.

Saiba mais sobre algumas das pesquisas da Ufes sobre covid-19

Painéis de dados

Além do painel OOBr Covid-19, a equipe do Observatório também trabalha com outros quatro painéis de informações: o OOBr Covid-19 1000 dias, Nascidos Vivos, OOBr Qualidados e o OOBr Covid-19 Vacinação. Mas, por conta da pandemia, o painel OOBr Covid-19 foi o que recebeu mais investimentos até o momento. 

No OOBr Covid-19 1.000 dias, são encontradas informações dos impactos da doença em crianças de até 2 anos de idade. No painel Nascidos Vivos estão os dados sobre os nascimentos, taxas de cesárea e prematuridade, entre outros, a partir do Sistema de Informação Sobre Nascidos Vivos (Sinasc). Já o OOBr Qualidados informa sobre os indicadores da qualidade dos dados públicos que estão sendo analisados pela equipe do Observatório Obstétrico Brasileiro.

“O Observatório Obstétrico Brasileiro tem feito um papel de disponibilizar os dados de forma acessível, o que estava faltando para muitos tomadores de decisão. E divulgando os dados, a sociedade tem ferramentas para poder discutir políticas públicas”, analisa a professora Agatha Rodrigues.

O desenvolvimento do projeto prevê, ainda, a possibilidade de uma análise mais aprofundada das causas da mortalidade materna e infantil para além da covid-19 e o desenvolvimento de um site único para disponibilizar todas as informações dos cinco painéis de visualização que o OOBr possui.

Para acompanhar as atualizações de dados, na plataforma basta se inscrever no endereço https://oobr.substack.com/subscribe e receber a newsletter semanal do OOBr, e também acompanhar o Instagram @observatorioobstetricobr.

Leia também:
Grávida adolescente ingere mais alimentos ultraprocessados, revela estudo
Maternidade e cárcere: a experiência de ser mãe no sistema prisional

*Bolsista em projeto de Comunicação

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*