Novo ecossistema marinho é descoberto na costa do Espírito Santo

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Ana Clara Andrade*

A cadeia Vitória-Trindade foi palco para uma nova descoberta. Em conjunto com a Universidade de São Paulo (USP) e a Academia de Ciências da Califórnia, pesquisadores da Ufes encontraram um novo tipo de formação geológica batizada de Colinas Coralinas. A novidade se trata de um recife e abriga uma grande biodiversidade, como peixes, tubarões e corais. 

As Colinas Coralinas são um ecossistema único. Os pesquisadores compararam sua estrutura quanto à composição de sua biodiversidade com as da Ilha da Trindade, com a costa do Brasil e com outras regiões do mundo. Sendo formada, em sua maioria, por algas coralináceas (calcárias), as estruturas encontradas podem chegar a 60 metros de altura.

De acordo com o pesquisador colaborador da Ufes e do Centro de Biologia Marinha da USP (CebiMar/USP) Hudson Pinheiro, a grande diversidade de fauna e flora presentes nas formações geológicas se deve ao fato de o local ser isolado geograficamente. “Apesar de existirem locais de pesca lá, ainda não é muito conhecido, poucos pescadores se aventuram a ir a essas distância”, explica.

Oásis

Batizadas “Colinas Coralinas” devido ao seu formato de monte, essas estruturas possuem um ambiente exclusivo que não pode ser encontrado em outra região do planeta. Pode ser comparado a um oásis devido à quantidade de vida existente em um local no fundo do mar que é coberto, em sua esmagadora parte, de sedimentos (areia). 

O isolamento geográfico também possibilita que espécies ameaçadas de extinção em outras regiões possam se abrigar nas colinas, como os tubarões-lixa (Ginglymostoma cirratum), que são 14 vezes mais numerosos na região do que em outros locais da costa. “O tubarão-lixa é uma espécie que ocorre em ambientes mais rasos e de fácil captura. Ela é super pescada e por isso está ameaçada de extinção. Tem um crescimento lento, gera poucos filhotes e tem várias características que a fazem suscetível a esse status”, afirma Pinheiro. 

Ameaças e preservação

Devido a sua composição de algas coralináceas, ou seja, calcário, a região é muito visada para a extração desse material. Pinheiro explica que a mineração é altamente prejudicial para a vida marinha e seus danos podem ser irreversíveis. “Essa mineração destrói todo o fundo marinho. [Os mineradores] removem esse substrato, fazem um granulado desse material recifal junto com as algas, bancos de rodolitos, areia, que fica ali naquele entorno e utilizam essa extração calcária para a fabricação de fertilizantes, destruindo e causando um dano permanente no ambiente de toda aquela biodiversidade”, conta o pesquisador. 

Apesar de serem situadas em águas internacionais, o Brasil solicitou a expansão de sua zona territorial marinha para elaborar políticas de preservação para toda a região que abriga as Colinas Coralinas. Os pesquisadores estudam meios para trabalhar em conjunto com a Unesco na criação da primeira Reserva da Biosfera Marinha, que englobaria toda a cadeia Vitória-Trindade.

A pesquisa recebeu o financiamento da Fundação Grupo Boticário e da ONG Vozes da Natureza. 

* Bolsista de projeto de Comunicação
Foto: acervo dos pesquisadores
Edição: Sueli de Freitas

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