Pós-graduação em expansão

Professor trabalha em pesquisa com plantas
Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, um dos que participam da internacionalização. Foto: Jorge Medina/Ufes
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– Por Nábila Corrêa –

Em dez anos, quantidade de mestrados da Ufes dobra e de doutorados mais que triplica, elevando o patamar das pesquisas a níveis de excelência

O crescimento de mais de 100% no número de cursos de mestrado da Ufes –de 30 para 62– e superior a 300% na quantidade de cursos de doutorado –de oito para 31– é motivo a ser celebrado. No cenário nacional, esse incremento, ocorrido na última década, coloca a Universidade no grupo das 21 instituições brasileiras que oferecem mais de 50 cursos de pós-graduação (PPGs). Localmente, esses números têm relevância ainda maior, já que os 60 PPGs da Universidade representam 76% do total do estado. Em relação aos cursos de doutorado, a Ufes é responsável por 90% da oferta das vagas capixabas.

Anualmente, a Universidade disponibiliza cerca de 1.200 vagas de pós-graduação. Em 2018, a instituição contabilizou 2.895 estudantes nos cursos de mestrado e 1.057 nos de doutorado, além de 1.322 nas especializações, totalizando mais de cinco mil acadêmicos comprometidos em cerca de 5.500 projetos em andamento, em todas as áreas do conhecimento: Ciências Exatas e da Terra, Ciências Biológicas, Engenharias, Ciências da Saúde, Ciências Agrárias, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas e Linguística, Letras e Artes.

Pesquisas na área de Engenharia Ambiental, Tecnologia de Equipamentos, Tecnologia Industrial Básica e Tecnologia de Informação são realizadas no Centro de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento Eliezer Batista da Silva (Cpid), inaugurado há um ano em Cariacica, na Grande Vitória. Foto: Jorge Medina/Ufes

Os programas de pós-graduação da Universidade, entretanto, não se destacam somente pela quantidade de cursos oferecidos, mas também pela qualidade, avaliada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Os programas com conceito 4, considerados bons, e 5, muito bons, já representam 58% dos oferecidos pela Universidade”, destaca o professor Valdemar Lacerda Júnior, que é diretor do Departamento de Pós-Graduação da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG). Lacerda Júnior explica que a avaliação da Capes analisa, entre outros critérios, a produção científica do corpo docente e discente, a estrutura curricular do curso e a infraestrutura de pesquisa. Os PPGs avaliados com nota 3 são autorizados a manter curso de mestrado e os que recebem a partir de 4 podem abrir doutorado.

O diretor ressalta que a elevação do nível de qualidade atual dos programas foi obtida por meio do planejamento estratégico, iniciado em 2012, com o Programa de Melhoria da Pós-Graduação (Propos), o qual estabeleceu metas de desempenho baseadas nos critérios de cada uma das 49 áreas de avaliação da Capes. Para atingir tais objetivos, os programas instituíram ações estratégicas na área acadêmica, na captação de recursos, na revisão de currículos e nos incentivos à produção científica e tecnológica.

Em consequência, mais programas alcançaram avaliação 4 da Capes. Assim, a Ufes, que contava com oito cursos de doutorado em 2009, passou a ter 18 em 2013 e 30 em 2019. No ano passado, a Capes autorizou a Universidade a ter doutorado nas áreas de Economia, Ciências Contábeis, Filosofia e Ciências Sociais. “Com o aumento na oferta de doutorados, novas linhas de pesquisa são criadas, diversificando ainda mais a atuação dos programas de pós-graduação na Ufes”, acrescenta Lacerda Júnior. O Propos também foi responsável pelo aumento de programas avaliados com 5 pela Capes, nota que indica o alcance de maturidade científica. No período de dez anos, a Universidade passou de apenas três programas com essa nota para 13 na última avaliação da Capes, em 2017.

O Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Metodologias para Análises de Petróleos (LabPetro), do Programa de Pós-Graduação em Química, é referência mundial em sua área de atuação (confira na pág. 34). Foto: Laís Santana/Ufes

O próximo passo é tornar os cursos da Universidade aptos a receber nota 6 pela Capes, o que representa que a área de pesquisa tem desempenho equiparável ao dos centros internacionais de excelência. Para alcançar esse fim, Lacerda Júnior enfatiza a importância da colaboração com outros países: “a internacionalização é um instrumento de apoio na busca da excelência, passando pela qualificação da produção intelectual, mobilidade de pesquisadores e estudantes, colaborações com universidades estrangeiras, compartilhamento de projetos e publicações, entre outras iniciativas”, ressalta o professor, destacando o apoio da Secretaria de Relações Internacionais (SRI) nas iniciativas implementadas pelos PPGs da Ufes nessa área. Entre os resultados dessas ações, está a escolha da Universidade pela Capes para receber fomento, por quatro anos, por meio do Programa Institucional de Internacionalização (PrInt). O programa prevê recursos para pesquisa, além de bolsas no exterior para professores e pós-graduandos, e auxílios para atrair pesquisadores estrangeiros.

Os esforços da Ufes para avançar na colaboração internacional em sua pesquisa vão ao encontro de iniciativas semelhantes em outros centros de pesquisa nacionais. “Globalmente, a ciência torna-se cada vez mais colaborativa, e os pesquisadores brasileiros estão ultrapassando as fronteiras do país e da América Latina”, conclui o diretor de Pós-Graduação, ressaltando ainda que o Brasil é o 13º maior produtor mundial de publicações de pesquisa (papers).

Ranking

Além das avaliações da Capes, o desempenho da pesquisa desenvolvida na Ufes pode ser medido pela posição da Universidade em rankings no país e no exterior. Em 2018, a instituição se destacou entre as melhores universidades brasileiras, na classificação do Ranking Universitário do Jornal Folha de São Paulo (RUF), que considera cinco indicadores: pesquisa, internacionalização, inovação, ensino e mercado. Na área de pesquisa, a Ufes alcançou o 30º lugar, após análise do total de publicações científicas e citações, e de publicações em revistas nacionais, além de recursos captados, número de bolsistas CNPq, defesa de teses, entre outros aspectos relacionados.

Internacionalmente, a Ufes foi classificada entre as 40 melhores universidades latinoamericanas em relação ao número de trabalhos de pesquisa, pelo Scimago Institutions Rankings, também em 2018. A classificação utiliza as informações sobre citações em trabalhos de pesquisa acessíveis na base de dados Scopus (da Editora Multinacional Elsevier). Em 2017, a Ufes ultrapassou o número de mil publicações indexadas nessa base.

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Lacerda Júnior explica que o número de citações recebidas por um paper reflete o impacto que ele teve em trabalhos posteriores. “As publicações científicas citam documentos anteriores para validar uma contribuição intelectual. Portanto, pode-se dizer que uma publicação com uma contagem de citações mais elevada teve um impacto maior no campo de conhecimento ao qual se relacionou”, ressalta.

Lacerda Júnior destaca o aumento de publicações da Ufes indexadas em bases de dados internacionais. Foto: Danielle Gonçalves

Restrição de Verbas

Os avanços na pesquisa, na Ufes e nas demais instituições públicas brasileiras, todavia, podem ficar comprometidos se essa área continuar sofrendo reduções no orçamento. Segundo Lacerda Júnior, a pesquisa e a pós-graduação vêm sofrendo perdas desde a crise de 2014. “Os constantes cortes financeiros que o setor de Ciência e Tecnologia vem sofrendo são muito preocupantes e, se não forem revertidos rapidamente, certamente trarão algum retrocesso nos próximos anos”, argumenta o diretor de Pós-Graduação.

Em 2019, a pesquisa do país sofreu um forte impacto com a redução de oferta de bolsas de pós-graduação pela Capes, anunciada em maio. A Ufes dispunha de 656 bolsas de mestrado e 367 de doutorado. “Em um primeiro momento, houve o recolhimento de 17 bolsas de mestrado e 11 de doutorado, que seriam concedidas a novos pesquisadores”, explica Lacerda Júnior. As áreas que já foram prejudicadas pelo corte, com pesquisas canceladas, foram as de Biotecnologia, Ciências Fisiológicas, Doenças Infecciosas, Informática e Saúde Coletiva.

Dentre as pesquisas que serão afetadas, o diretor destaca a do Núcleo de Pesquisa Neurofeedback: Aplicação nas Desordens Neuropsiquiátricas, que reúne o conhecimento técnico e científico das áreas de Medicina, Psicologia e Engenharia, valendo-se da interação homem-máquina e de ambiente virtual para o restabelecimento, a formação ou a substituição de conexões cerebrais, com o objetivo de recuperar ou compensar funções comprometidas; a de estudos dos efeitos das areias monazíticas de Guarapari sobre os sistemas biológicos, a qual busca a comprovação da eficácia terapêutica da radioatividade da areia preta das praias da cidade do litoral do Espírito Santo; e a de avaliação dos riscos cardiovasculares de pacientes com câncer, realizada em parceria com o Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam-Ufes), o Hospital Santa Rita, o Hospital Evangélico, o Centro Capixaba de Oncologia (Cecon) e o Departamento de Odontologia da Ufes.

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