Por Prof. Dr. Henrique Braga (Coordenador do subgrupo Política Monetária – Grupo de Conjuntura/Economia/UFES)
Em recente ensaio jornalístico, o professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, Paulo Feldmann, afirmou que, com o avanço da robótica, da internet das coisas e da inteligência artificial diversas profissões serão extintas. Antes que se pense que serão suprimidos os trabalhos de baixa qualificação, como ocorreu ao longo dos séculos XIX e XX, o autor ressalta que serão abolidos os postos de trabalho de elevada qualificação, como advogados, médicos, professores, engenheiros, dentre outros. Como resultado, avizinha-se um mundo de desempregados. Se esse é o horizonte, cabe perguntar, o que seria possível fazer? E, também, quais são as consequências sociais?
Abordando o mesmo tema, o jornalista argentino Andrés Oppenheimer argumenta que a questão social importante na iminente destruição de postos de trabalho reside no próprio processo dessas perdas. Isso porque, por um lado, as profissões ameaçadas são aquelas vinculadas à classe média, desestabilizando esse extrato social, ao inviabilizar seu meio de vida e, assim, sua maneira de viver. Por outro lado, a transição para as novas profissões pode ser traumática, tanto porque, ao que parece, serão criados poucos empregos em segmentos específicos de alta tecnologia, restando empregos relacionados aos serviços pessoais, caracterizados pela intermitência e menor remuneração. Nesse particular quem e quantos poderão transitar para os novos trabalhos? Como ocorrerá essa transição?
Embora as afirmações contundentes desses textos a respeito da configuração do mundo do trabalho nas próximas décadas devam ser tomadas com cautela, o quadro desenhado por eles e as questões que suscitam nos permitem buscar possíveis desdobramentos das transformações em curso. Oppenheimer, recuperando entrevista com o pesquisador Nick Bostrom, da Universidade de Oxford, sugere a eclosão de uma sociedade em que o trabalho não seja um imperativo. Distintamente, se partirmos da hipótese de que o trabalho continua a ser central à vida social, mesmo ante a possibilidade concreta de reduzir drasticamente as jornadas de trabalho, o que o futuro parece nos reservar?
Se lembrarmos que a maioria dos seres humanos, até meados do século XVIII, não convivia com uma jornada de trabalho contínua, intensa e extensa, e que essa mudança se consolidou em meados do século XIX, podemos intuir possíveis sentidos das transformações em curso. Talvez o que estamos vivenciando seja a conformação de uma nova forma de sociabilidade do trabalho. E, por isso, melhores respostas às questões colocadas exigem localizar a reflexão acerca dos acontecimentos em curso num campo mais aberto e dinâmico, que considere um horizonte maior da história humana, descortinando, assim, seus limites e possibilidades.