DIVULGAÇÃO: Palestra “O espírito neoliberal entre o diabo e o dinheiro: evangélicos, governamentalidades e lutas no Rio de Janeiro”

O Laboratório de Estudos Urbano-regionais, das Paisagens e dos Territórios (Laburp) convida para a palestra de Iafet Leonardi Bricalli, na qual apresentará sua tese de doutorado defendida em julho de 2023 no curso de doutorado em Ciências Sociais (Curriculum de Sociologia) da Universidade de Gênova, Itália.

A palestra ocorrerá na sala 208, do Prédio Barbara Weinberg, no Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN), da Ufes, às 9h00.

Confira o resumo:
No Brasil, um dos fenômenos sociais mais importantes das últimas décadas é a importância que os evangélicos passaram a adquirir no conjunto da sociedade. Não apenas o número de igrejas e de fiéis se expandiu principalmente nas favelas e periferias das grandes cidades, mas também os evangélicos assumem um papel cada vez mais relevante nos campos político e cultural do país. Um dos segmentos mais importantes desse fenômeno são os chamados evangélicos neopentecostais, cujas igrejas se constituíram a partir da adoção de uma teologia que possui estreita relação com o neoliberalismo, a Teologia da Prosperidade. O objetivo principal da tese é compreender o papel desempenhado pelo neopentecostalismo na governamentalidade neoliberal. Para tanto, a tese lança mão de uma escolha metodológica relacionada ao neoliberalismo. Mais do que um conjunto de políticas econômicas acampanhadas de ideologias aplicadas às sociedades pela articulação entre Estados nacionais e corporações a partir de um ponto externo, como quer um certo discurso marxista, a definição de neoliberalismo adotada por este trabalho baseia-se nas pesquisas de autores como Michel Foucault, Pierre Dardot, Christian Laval, Wendy Brown, dentre outros, para os quais o neoliberalismo é uma forma de governamentalidade, que busca conduzir as condutas a partir de uma mistura de princípios aparentemente contraditórios que envolvem liberdade e conservadorismo. Uma etnografia coberta conduzida em uma das sedes do Rio de Janeiro da principal representante do neopentecostalismo brasileiro, a Igreja Universal do Reino de Deus, e o acompanhamento das publicações da referida igreja revelaram como religião e neoliberalismo se encontram durante os cultos e publicações: responsabilização individual pelos sofrimentos cotidianos, rituais de exorcismo, rejeição do trabalho assalariado, individualismo, estímulo ao empreendedorismo, discursos motivacionais, técnicas de coaching e apoio à extrema direita estão entre os destaques das observações feitas. No entanto, à medida que fui conhecendo o ambiente evangélico através da bibliografia e dos contatos que tive com muitos pastores da cidade do Rio de Janeiro, duas outras questões emergiram. A primeira refere-se à insuficiência de se falar de apenas um tipo de governamentalidade evangélica – aquela que associa a teologia neopentecostal e o neoliberalismo – e, assim, apresentar a articulação de algumas igrejas evangélicas e de alguns pastores com outras formas de governamentalidade “clássicas” das favelas e periferias da cidade, em razão da forte penetração que essas igrejas e pastores passaram a ter nestes espaços. Através de entrevistas e de dados secundários obtidos em livros, artigos e matérias de jornais mostro as relações recíprocas entre algumas igrejas evangélicas e pastores com as políticas de segurança pública, com a política de remoção de favelas, com o narcotráfico e com as milícias. A segunda questão relaciona-se à tentativa de apresentar um ambiente evangélico diverso que conheci durante o meu trabalho de campo no Rio de Janeiro e que envolve a participação de evangélicos em diferentes lutas por justiça social na cidade. Utilizando-se de entrevistas discursivas, apresento três casos: uma evangélica que lidera a luta contra a remoção da favela na qual vive, uma evangélica que lidera a luta pelos direitos humanos e uma pastora de uma igreja neopentecostal que conduz a sua igreja a partir da luta contra o racismo, contra a violência de gênero e em favor dos moradores de rua. Com a apresentação destes casos, conclui-se que o papel desempenhado pelas igrejas evangélicas na condução das condutas a partir de diferentes tipos de governamentalidades não pode ser pensado a partir de um puro determinismo, uma vez que lutas e resistências sempre existem em confrontação com as práticas de poder.
Palavras-chave: neoliberalismo, governamentalidade, evangélicos, pentecostalismo, neopentecostalismo.

Biografia do autor
Iafet Leonardi Bricalli possui graduação em Geografia (2008) e mestrado em Geografia (2015) pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Em julho de 2023, conseguiu o título de doutorado em Ciências Sociais – Curriculum de Sociologia – pela Universidade de Gênova, Itália.

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