Metabolismo e Função Celular da Creatina

A creatina é um composto que contém carbono, hidrogênio e nitrogênio, sintetizado nos rins, pâncreas e fígado (este último principalmente) a partir de três aminoácidos: glicina, arginina e metionina (PERSKY et al., 2003). Sua biossíntese envolve a ação de duas enzimas, a arginina:glicina amidinotransferase (AGAT) e a guanidinoacetato metiltransferase (GAMT). Diariamente aproximadamente 2g de creatina são convertidas, através de reação não-enzimática, em creatinina que atravessa livremente a membrana celular sendo posteriormente excretada pelos rins (GREENHAFF, 1997; WYSS; KADDURAH-DAOUK, 2000). A reposição dos estoques de creatina se dá tanto por síntese endógena quanto pela ingestão na dieta onívora típica. Os estoques intracelulares de creatina total gira em torno de 120-125mmol/kg de peso seco, resultando em cerca de 120g para um indivíduo de 70kg, sendo 95% deste valor encontrado no músculo esquelético (PERSKY et al., 2003). Um resumo do metabolismo da creatina consta na figura 1.

A creatina apresenta-se nas formas livre (Cr) ou fosforilada (CP). Quando fosforilada, atua na refosforilação do ADP, mediante a enzima creatina quinase (CK), contribuindo para a manutenção dos níveis intracelulares de ATP. Esta via energética é predominantemente utilizada no início do trabalho de contração muscular, bem como em esforços de curtíssima duração e alta intensidade. Desta forma, têm sido demonstrado que a suplementação com creatina monohidratada proporciona uma melhoria significativa em atividades de alta intensidade, ao aumentar os níveis intramusculares de creatina total (TCr) para cerca de 145 a 160 mmol/kg de peso seco (GREENHAFF et al., 1994), bem como proporcionar um aumento da ressíntese de CP durante a recuperação (WILLIAMS et al., 2000). A melhoria da performance é tanto maior quanto for o aumento destes níveis, ou seja, quanto maior for a diferença pré/pós-suplementação (GREENHAFF et al., 1994), o que explica o maior efeito ergogênico verificado em indivíduos vegetarianos, que não consomem creatina na dieta (LUKASZUK et al., 2002; BURKE et al., 2003).
A administração de creatina tem mostrado, ainda, efeitos no aumento da expressão de proteínas no músculo, como os MRFs (Myogenic Regulatory Factors – Fatores de Regulação Miogênicos), Miogenina, MyoD, Myf-5 e MRF-4 (HESPEL et al., 2001; WILLOUGHBY; ROSENE, 2003; LOUIS et al., 2004), IGF-I (LOUIS et al., 2004), bem com do transportador de glicose GLUT-4 (EIJNDE et al., 2001; DERAVE et al., 2003; JU et al., 2005).
Além da utilização no meio esportivo, com vistas à melhoria da performance, a suplementação de creatina tem se mostrado com grande relevância clínica, auxiliando o tratamento de doenças como artrite, insuficiência cardíaca congestiva, distrofia muscular (síndrome muscular de Duchenne), doença de McArdle, doenças mitocondriais e doenças neurológicas (PERSKY et al., 2003), bem como no auxílio da diminuição dos níveis de homocisteína sérica em indivíduos que apresentam quadro de hiperhomocisteinemia. (STEAD et al., 2001; MCCARTY, 2001; WYSS; SCHULZE, 2002).
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Lucas Guimarães

Sobre Lucas Guimarães Ferreira

Professor do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo
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