(Sub)Cultura da Bobagem

No Brasil e no mundo, a boa educação (formal e informal) tem atualmente encontrado diversos obstáculos para adequada realização. Há várias razões para essa situação lastimável, mas quero aqui destacar apenas a influência perniciosa de algo que alcança o status de um paradigma: a cultura da bobagem. Defino esse termo como um conjunto de ideias, conceitos e comportamentos banais/medíocres disseminados informalmente, mormente pelos meios de comunicação de massa – e sobretudo pela televisão [*]. A cultura da bobagem é mormente um meio ao invés de um fim em si mesma, sendo que os interessados na sua promoção pretendem principalmente difundir idéias, induzir o consumo de determinados produtos ou simplesmente prender a atenção das pessoas. A cultura da bobagem ilustra a amplitude e profundidade do contínuo “assédio marketeiro” sobre a sociedade. Parece que não há limites para os métodos de manipulação, embora todos sejam variações do mesmo tema: a exploração aviltante de impulsos e emoções humanas; o ápice desses métodos são engodos sutis que suscitam a impressão de liberdade, autonomia, afirmação, realização pessoal: nesse caso, as pessoas mais enganadas são aquelas que acolhem a idéia, compram o produto ou dão seu tempo crendo que fazem isso deliberadamente.

Será possível resistir? Quem tem força e vontade para tanto…?

É fundamental desenvolver uma postura crítica, a capacidade para julgar as idéias e comportamentos.

É fundamental ser capaz de perceber os fins pretendidos e meios utilizados pelos marketeiros, bem como ter uma boa consciência do que ganha e do que se perde pela assunção de determinados elementos culturais.

No livro “A Era da Manipulação”, Wilson Bryan Key discute diversos métodos subliminares de manipulação usados na mídia. Quando li o livro (por volta de 1991), achei a leitura impressionante e acredito que o livro ainda pode servir para despertar consciências.

Cabe citar uma opinião pertinente:

“Esta geração é light. Isso quer dizer que tende a buscar resultados sem esforço (baixos teores), como no caso da lipoaspiração e da ginástica passiva. No primeiro caso, você perde 30 quilos sem precisar fazer dieta (compra seu emagrecimento por meio de uma cirurgia); no segundo, faz exercícios sem fazer força (fazer força é coisa para guindaste). Aplicada à cultura, a geração light está desaprendendo a ler, a cultivar conversas profundas (e demoradas), preferindo fixar-se em clichês, chavões e comentários sobre assuntos apresentados na televisão. O máximo de aprofundamento a que chega é uma análise psicanalisante (está na moda falar de interioridades) de algum aspecto da vida, … . Se você analisar uma conversa, seja de jovens, seja de adultos, verá que ela se resume a comentar fatos do cotidiano… . O indivíduo espirituoso de antigamente – aquela personalidade viva, perspicaz, de tirocínio agudo, raciocínio rápido, e às vezes até mordaz em suas tiradas – se transformou no divertido. A pessoa divertida é aquela personalidade alegre e extrovertida, capaz de dizer um monte de bobagens e piadinhas de sentido duplo (seja na direção da indecência, seja na do “nenhum sentido”). Mas está em alta, porque o meio social quer diversão. Rubem Amorense: Icabode. Editora Ultimato (1998): pp.125-126.

[*] A capacidade de influência cultural da mídia é bastante significativa, como também é grande sua capacidade para sustentar o exorbitante consumo de supérfluos no país e no mundo. O Prof. Mário Sérgio Cortella (PUC-SP) discute a educação realizada pela mídia numa palestra apresentada num “Fórum Internacional sobre Criança e Consumo (2011)”: A Mídia como Corpo Docente (acessado em 22/03/2013). Dessa palestra, destaco a citação de François Rabelais feita pelo Prof. Cortella: “conheço muitos que não puderam quando deviam porque não quiseram quando podiam.” Cortella acrescenta: “A gente pode, deve e tem de querer; do contrário, a gente desiste e aí apodrece o que falta.”
Registro também duas idéias apresentadas na palestra:
Se a mídia nos faz mal é porque permitimos. A frase do Prof. Cortella que resume essa idéia (referindo-se especificamente a influência da mídia sobre os filhos): “[a mídia] abre porta onde a gente deixou a porta destrancada”.
– “Nossa tarefa é impedir que as nossas gerações que conosco partilham a vida, [que] elas sejam destrutivas, que elas sejam consumistas, que elas sejam ególatras, que elas sejam capazes de esquecer que a regra básica não é, não é e não pode ser, cada um por si e Deus por todos, mas a regra é outra é um por todos e todos por um.”


 O Reinado de Estupidez
Duas coisas me confundem,
e uma terceira eu não entendo:
Que um jovem se dedique a sandices,
Que se gabe delas,
E que amigos o louvem por isso!
Talvez haja uma explicação:
Numa nação de tolos,
A ignorância é virtude,
Os idiotas são príncipes,
e o mais bruto reina todos!

Lúcio Fassarella
São Mateus – ES, 10 de Outubro de 2012

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