Academia, segundo Taleb

Ler nos permite conhecer coisas novas, e também confirmar coisas que já sabemos por experiência própria. Por exemplo, eu já sabia que os acadêmicos não são mais inteligentes, mais gentis, mais nobres ou mais sábios do que as demais pessoas; talvez sejam mais sofisticados, mas somente no sentido da capacidade de proferir palavrões em francês. Se eu lamento? Só…

  • “Depois de mais de vinte anos trabalhando como operador transacional e empresário no que chamei de ‘profissão estranha’, tentei o que se chama de carreira acadêmica. E tenho algo para contar – na verdade, esse era o condutor por trás dessa ideia de antifragilidade na vida e a dicotomia entre o natural e alienação do antinatural. O comércio é divertido, emocionante, alegre e natural; o mundo acadêmico, como está atualmente profissionalizado, não é nada disso. E, para aqueles que pensam que a academia é mais ‘silenciosa’ e representa uma transição emocionalmente relaxante após a vida volátil dos negócios e da assunção de riscos, uma surpresa: quando em ação, novos problemas e sustos surgem a cada dia para deslocar e eliminar as dores de cabeça, os ressentimentos e os conflitos do dia anterior. Um prego desloca outro prego, com espantosa variedade. Porém, os acadêmicos (especialmente nas ciências sociais) parecem desconfiar uns dos outros; eles vivem de pequenas obsessões, invejas e ódios mortais, com pequenas indelicadezas se convertendo em rancores, fossilizados ao longo do tempo na solidão da transação com a tela do computador e a imutabilidade de seu ambiente. Sem falar de um nível de inveja que praticamente nunca presenciei no mundo dos negócios… Minha experiência é que o dinheiro e as transações purificam as relações; ideias e assuntos abstratos como ‘reconhecimento’ e ‘crédito’ as deformam, criando uma atmosfera de rivalidade perpétua. Passei a considerar as pessoas ávidas por credenciais repugnantes, repulsivas e não confiáveis.”
  • “Quero ser feliz sendo humano e estar em um ambiente em que as outras pessoas estejam reconciliadas com seu destino – e nunca, até meu encontro com a academia, havia considerado que este ambiente era uma certa forma de comércio (combinado com uma solitária bolsa de estudos).”
    > Nicholas Nassim Taleb: Antifrágil. Tradução: Eduardo Rieche. Best Business: Rio de Janeiro, 2014. pp.37, 38, 39.