Em uma condição de crise com amplitude cada vez maior (energética, ambiental, social, econômica ou mesmo ideológica) – faz-se necessária uma mudança de perspectiva. A ação do arquiteto e urbanista enquanto o propositor da “novidade”, aquele que soluciona as questões através da proposição de uma nova ordem morfológica e estética, precisa ser repensada em termos mais abrangentes. A excessiva vontade de originalidade e ineditismo – através de um processo de substituição do existente pelo novo – pode ser repensada incorporando conceitos como transformação, conversão, reutilização, recuperação, regeneração, como possíveis estratégias frente à tal condição contemporânea.
Por isso, este número da revista Prumo traz para o debate a pertinência de diversas formas de agir pensando a preexistência (em termos arquitetônicos, urbanísticos, paisagísticos, territoriais) como possibilidade de continuidade e não de ruptura, através de ações e reflexões que busquem a transformação e a mudança frente à obsolescência das coisas e sistemas. É necessário enfrentar um embate inevitável: por um lado, as necessidades conservacionistas e patrimoniais, por outro, a aceitação das transformações técnicas, sociais e estéticas como naturais do fluxo temporal. Como consequência, possíveis estratégias de interpretações físicas e simbólicas da preexistência, que não prescindem, logicamente, de fórmulas apriorísticas, mas que se mostram cada vez mais compatíveis com a vitalidade e sustentabilidade das nossas cidades.