Violência e comunicação: o que acontece quando as palavras não bastam…

Faz algum tempo que ouvi falar sobre uma disseminação de episódios de violência entre pessoas próximas, jovens amigos ou casais de namorados. Pelo que me lembro, o fenômeno chama atenção porque é relativamente recente e possui causas atípicas, não completamente compreendidas. Entretanto, uma explicação apresentada tem por base um problema de comunicação: os jovens estão usando atos agressivos para comunicar sentimentos e emoções porque a expressão verbal não está sendo mais efetiva para tanto. Ou seja, para dar um exemplo, não basta o rapaz dizer para a namorada que não gostou da sua atitude na festinha, ele tem que dar um tapa na cara dela para ela entender a mensagem (ou para ele ter certeza de que ela entendeu).

Agora, parece que o mesmo fenômeno está acontecendo entre a população brasileira e os políticos: estão surgindo iniciativas/campanhas para as pessoas hostilizarem os políticos que encontrarem pelo caminho – e eu estou acreditando que esta tendência também pode ser explicada pelo fato dos políticos não estarem dando ouvidos às manifestações pacíficas de indignação da população sobre sua generalizada incompetência e exacerbada corrupção moral (i.e., como diz um velho ditado popular, por eles fazerem na vida pública o que fazem na privada).

Considerando que até namorados estão se agredindo para serem ouvidos, eu não duvido de que os brasileiros são capazes de fazer muito pior com os políticos se eles continuarem a nos desprezar e agirem como bandidos.

De minha parte, desejo justiça e paz.

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Paradoxo Brasileiro

  • O paradoxo brasileiro é o seguinte. Cada um de nós isolaamente tem o sentimento e a crença sincera de estar muito acima de tudo isso que aí está. Ninguém aceita, ninguém aguenta mais: nenhum de nós compactua com o mar de lama, o deboche e a vergonha da nossa vida pública e comunitária. O problema é que, ao mesmo tempo, o resultado final de todos nós juntos é precisamente tudo isso que aí está! A auto-imagem de cada uma das partes – a ideia que cada brasileiro gosta de nutrir de si mesmo – não bate com a realidade do todo melancólico e exasperador chamado Brasil.”
    Como explicar o paradoxo brasileiro? Como entender essa sensação íntima de superioridade de cada um de nós, separadamente, diante do coletivo, e o fato de que todos nós juntos estamos tão aquém da somatória das nossas auto-imagens individuais? / A explicação básica, caro leitor, talvez não seja a hipocrisia. (…) Nosso verdadeiro problema, é o auto-engano. /se fôssemos capazes, cada um de nós, de olhar para nós mesmos como os outros nos vêem, descobriríamos que o /brasil nos habita e teríamos mais humildade no agir.”
    (
    Eduardo Giannetti: Vícios Privados, Benefícios Públicos? Companhia das Letras: São Paulo, 2005: p.12,15. Ênfases acrescentadas.)

Diamantes a porcos…

Se as pessoas não querem ou não conseguem seguir orientações médicas para viver melhor, por que acreditar que jovens estudantes vão seguir as sugestões de estudo de seus professores, especialmente quando essas sugestões contrariam seus desejos imediatos (tanto quanto imaturos)?

Infelizmente, parece que é típico desperdiçar tempo na juventude e se lamentar isso depois; mas se dar bons conselhos aos jovens estudantes não os ajuda, pelo menos nos livra da culpa de não avisar…

 

  • Theodore Dalrymple: Qualquer Coisa Serve. Ano 2011. Tradução: Hugo Langone. É Realizações: São Paulo, 2016: p.81, p.208:
    • “Como médico e psiquiatra, passei um terrível período de minha carreira tentando levar pessoas por um caminho que se me afigurava adequado e benéfico a elas. Não nutro quaisquer ilusões acerca do quanto fui bem-sucedido: acho que tive pouquíssimo sucesso. Na melhor das  hipóteses, plantei as sementes da mudança em vez de tê-la suscitado de modo propriamente dito. Meus pacientes muitas vezes haviam seguido rumos tão autodestrutivos que, se encarados de maneira imparcial e com um mínimo de bom senso, não poderiam conduzir a nada além de angústia, desespero e caos. Com efeito, não raro os próprios pacientes percebiam isso, ao menos do ponto de vista intelectual.”
    • “Lamento dizer que não fui um aluno muito bom: não levava jeito para aquilo [estudar fisiologia] e, para ser honesto, também não fui muito consciencioso. Hoje, gostaria de ter sido mais atento, mas à época eu só tinha ciência intelectual, e não emocional, de que a flecha do tempo só voa numa direção. Ainda achava que minha vida seria tão longa que haveria tempo para tudo e estava certo de que nenhuma omissão de minha parte teria consequências duradouras ou irrecuperáveis.”

Os Princípios Acima das Preferências

Um comentário baseado num elemento do caso Dreyfus

Em poucas palavras, o caso Dreyfus consistiu da condenação fraudulenta por alta traição do oficial do exército francês Alfred Dreyfus (1859-1935), no final do século XIX. Apesar de alguns fatos ainda permanecerem obscuros, há relativa segurança sobre contribuição de diversos fatores para a realidade do que aconteceu, sobretudo: desinformação (o processo parece ter sido elaborado pelo serviço de inteligência francês para despistar dos inimigos o desenvolvimento de uma inovadora arma de guerra, um canhão de 75mm com sistema para amortecimento do recuo), anti-semitismo (Dreyfus era judeu de uma família próspera e havia alguns movimentos anti-semitas florescendo na França da Belle Époque), conflitos político-ideológicos (como a oposição da Igreja Católica ao governo republicano, que culminou na lei que separou Igreja e Estado como consequência do desfecho do caso Dreyfus). Entretanto, de tudo o se sabe que aconteceu nesse caso, quero destacar o  tenente-coronel Georges Picquart, que casualmente descobriu a falsidade das provas pelas quais Dreyfus foi condenado e tomou providências sob duras represálias para que fosse inocentado apesar de pessoamente detestar Dreyfus (por ele ser judeu, dentre outras coisas). Conforme Émilie Zola (1840-1902) em sua J’accuse…! [Eu acuso…!], carta endereçada ao então Presidente da República da França, Félix Faure:

O tenente-coronel Picquart estava cumprindo suas obrigações de homem honesto. Insistia com seus superiores, em nome da justiça. Respondia, dizia quanto suas decisões eram apolíticas, diante da terrível tempestade que se construía, que se daria quando a verdade fosse conhecida”.

“E o fantástico resultado dessa prodigiosa situação é que o honesto tenente-coronel Picquart, que apenas cumpriu seu dever, será ele a vítima, o ridicularizado e o punido. Ah!, justiça, que terrível desespero rasga o coração! Chega-se ao cúmulo de dizer que ele é o falsificador, que fabricou o telegrama para incriminar Esterhazy. Mas, ó Deus! Por quê? Com que razão? Dai-me um motivo. Ele também foi pago pelos Judeus? O mais engraçado é que ele é justamente o anti-semita!”

Émile Zola: L’Acuse…!: Lettre au Presidént de la Repúblique. L’Aurore, 1898.

Não sei por que Picquart era anti-semita e detestava Dreyfus, mas me parece certo que, apesar disso, ele considerava que a verdade e a justiça deviam prevalescer sobre as preferências pessoais e que devia lutar por isso mesmo tendo que sofrer duras consequências.

Uma característica do caráter honrado e digno é ter os princípios verdadeiros acima das preferências pessoais. Por isso, Picquart é admirável e o resto é só resto

Referências

  1. Lauro M. Coelho: Caso Dreyfys: A fraude que revoltou a frança. URL: http://super.abril.com.br/historia/caso-dreyfus-a-fraude-que-revoltou-a-franca (Acessado em 14/05/2016)
  2. Émile Zola: L’Acuse: Lettre au Presidént de la Repúblique. O Marrare, no.12: 204-217. URL: http://www.omarrare.uerj.br/numero12/pdfs/emile.pdf (Acessado em 14/05/2016)
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Barbaridade: falta de vontade de estudar!

Fico imaginando se não é um sinal de barbarismo a aversão que muitos alunos de graduação em ciências exatas têm às demonstrações mais elementares da Matemática, aversão que significa recusa absoluta em conhecer as razões subjascentes aos conceitos e técnicas de cálculo aplicados nas disciplinas básicas.

  • O bárbaro é o que sabe sem saber o porquê do que sabe; o civilizado, o que sabe, sabendo o porquê do que sabe. Só há ciência quando se sabem os porquês próximos e remotos de uma coisa, de suas causas, de suas razões.” “O perigo da pedagoria moderna, em seus aspectos negativos, consiste em julgar que basta apenas informar bem o educando para atingir o conhecimento, quando a verdadeira pedagogia consistiria em dar a este a capacidade de, por si mesmo, investigar as causas, as razões, os porquês das coisas. Eis aqui um tema de máxima importância e que merece de nós uma atenção mais cuidada: o problema pedagógico sob o aspecto da formação mental do homem. Não deve ser a primacial finalidade da pedagogia consgtruir mentes capazes de investigarem os porquês, as causas e as razões das coisas, ou apenas formar mentes medíocres, eruditas de certo modo, mas sem saberem por si mesmas alcançar as causas das coisas?”
    Mário Ferreira dos Santos: Invasão Vertical dos Bárbaros. É Realizações Editora, 2012: p.43.

 

A conquista do sonho: basta o empenho?

O empenho pessoal é certamente fundamental para se conquistar sonhos grandiosos. Mas será suficiente? Podemos dizer que todos que se esforçam vencem? Tenho minhas suspeitas…

Por outro lado, é um equívoco estabelecer limites estreitos ao que podemos alcançar com nosso empenho: isso desestimula e acaba por realmente limitar o que podemos alcançar – como uma profecia que se auto-realiza. Então, a verdade parece ser que para conquistar algo temos que nos empenhar para ver se conseguimos, caso contrário já estamos fracassados! (Essa frase é tanto uma conclusão quanto um conselho e uma advertência.)

Agora, o empenho não é a única variável na equação do sucesso: a questão possui muitos aspectos interpessoais. Focalizando a dimensão sócio-política, destaco que o sucesso do empenho pessoal depende do sonho estar de acordo ou não com o que a conjuntura social favorece. Cabe a pergunta, tanto política quanto ética: a conjuntura social favorece ou desfavorece o sucesso daqueles que se empenham em conquistar sonhos que beneficiem a todos?

Não acho que nossa sociedade capitalista, competitiva e hedonista favoreça aqueles que se empenham pelo bem comum – apesar do reconhecimento que esse empenho possa receber do público. Isso é muito lamentável…

Referências

– Zero Hora (RS): Debaixo da ponte, um aluno nota 10 que sonha ser médico. Link (05/06/2013)! Citação: “Os obstáculos que encontra nos planos para se tornar médico, ele supera com criatividade.