A conquista do sonho: basta o empenho?

O empenho pessoal é certamente fundamental para se conquistar sonhos grandiosos. Mas será suficiente? Podemos dizer que todos que se esforçam vencem? Tenho minhas suspeitas…

Por outro lado, é um equívoco estabelecer limites estreitos ao que podemos alcançar com nosso empenho: isso desestimula e acaba por realmente limitar o que podemos alcançar – como uma profecia que se auto-realiza. Então, a verdade parece ser que para conquistar algo temos que nos empenhar para ver se conseguimos, caso contrário já estamos fracassados! (Essa frase é tanto uma conclusão quanto um conselho e uma advertência.)

Agora, o empenho não é a única variável na equação do sucesso: a questão possui muitos aspectos interpessoais. Focalizando a dimensão sócio-política, destaco que o sucesso do empenho pessoal depende do sonho estar de acordo ou não com o que a conjuntura social favorece. Cabe a pergunta, tanto política quanto ética: a conjuntura social favorece ou desfavorece o sucesso daqueles que se empenham em conquistar sonhos que beneficiem a todos?

Não acho que nossa sociedade capitalista, competitiva e hedonista favoreça aqueles que se empenham pelo bem comum – apesar do reconhecimento que esse empenho possa receber do público. Isso é muito lamentável…

Referências

– Zero Hora (RS): Debaixo da ponte, um aluno nota 10 que sonha ser médico. Link (05/06/2013)! Citação: “Os obstáculos que encontra nos planos para se tornar médico, ele supera com criatividade.

Universidades Globalizadas

As universidades estão se globalizando, naturalmente. Aquelas mais articuladas estão gerando uma revolução educacional, com o desenvolvimento de novas características, novos recursos e novas metodologias de ensino, pesquisa e extensão.

Universidades on-line

Diversas instituições de ensino superior no Brasil e no mundo têm aderido a ideia de ofertar cursos gratuitos pela Internet [Co2013] [Ri2013]. É uma adesão natural e necessária, pois esses cursos requerem relativamente poucos investimentos em recursos materiais e humanos, enquanto podem trazer enormes benefícios, dentre os quais um grande número de pessoas alcançadas e a alta qualidade dos cursos.

Uma revolução no ensino está em curso e a tendência é de incorporar definitivamente os recursos digitais e a internet :

“Mattos, da Perestroika, cita três momentos paradigmáticos da história da humanidade: a revolução agrícola, a industrial e a digital. Esta última, acontece agora. ‘Estamos surfando numa onda e não sabemos onde nem como ela vai quebrar. Tudo indica que teremos muitas mudanças daqui para frente’, prevê o educador.” [Go2013]

Imagino que grandes e pequenas universidades têm seus nichos, pois há tanto generalidades quanto particularidades nos temas de estudo, métodos de ensino e modos de aprendizado. O que nenhuma instituição de ensino superior pode fazer é “perder o bonde da história”…

Em sintonia com a tendência para fazer educação através da Internet, o Departamento de Matemática Aplicada do CEUNES decidiu em 2012 criar o “Portal da Matemática”, cujo atual endereço eletrônico é: http://www.matematica.saomateus.ufes.br

Ciberinfraestrutura: Certamente pensando nas especificidades do ensino e da pesquisa com base na Internet, a diretora adjunta de Internet Avançada da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), Iara Machado, defende que as atividades acadêmicas e de ensino tenham sua própria “ciberinfraestrutura”:

“Um perímetro da rede deve ser desenhado para que equipamentos, configurações e políticas de segurança sejam otimizados para aplicações científicas de alto desempenho, em vez de atender requisitos genéricos de computação corporativos ou de negócios.” [As2013]

Flexibilidade Curricular

O uso intensivo de recursos on-line é apenas uma das novas características das universidades globalizadas; dentre outras, destacam-se: currículos flexíveis, atividades extra-curriculares e multidisciplinaridade. Depois de apresentar as realizações de três estudantes de engenharia, José Roberto Cardoso pergunta:

“Será que não precisamos refletir sobre o papel da universidade na formação de nossos jovens, em particular de nossos jovens engenheiros? O que fazer para navegar de uma estrutura rígida e cristalizada, que nos confina em silos, para uma estrutura flexível e moldável, na qual a especialização seja substituída pela visão sistêmica de um problema[?]” [Ca2013]

Referências

[Co2013] Carolina Cortez (Valor Econômico): Universidades lançam cursos gratuitos on-line. JC e-mail 4736, de 29 de Maio de 2013. Link!

[Ri2013] Sabine Righetti (Folha de S.Paulo): USP lança curso on-line de física e de estatística. JC e-mail 4744, de 11 de Junho de 2013. Link!

[Go2013] Patricia Gomes (Portal Porvir): Quando a revolução do ensino superior bate à porta. JC e-mail 4745, de 12 de Junho de 2013. Link!

[As2013] Ascom RNP: “Campus do futuro” pede infraestrutura própria, diz diretora da RNP. JC e-mail 4736, de 29 de Maio de 2013. Link!

[Ca2013] José Roberto Cardoso: O fim da escola de engenharia como a conhecemos. JC e-mail 4566, de 21 de Agosto de 2012. [Link!]

Brasil: Políticas Sociais

São boas as estratégias governamentais contra a probreza e pró-justiça social no Brasil?

As opiniões divergem. Aqui, limito-me a uma compilação breve de alguns textos disponíveis na Internet.

Opiniões favoráveis às estratégias governamentais contra a pobreza e exclusão social

  1. Armando Simões, Gazeta do Povo (PR): Opinião: Mais bolsa família, mais educação. Todos Pela Educação, 26 de Maio de 2013. Link!
  2. Amauri Segalla, Mariana Brugger e Rodrigo Cardoso: Por que as cotas raciais deram certo no Brasil: Política de inclusão de negros nas universidades melhorou a qualidade do ensino e reduziu os índices de evasão. Acima de tudo, está transformando a vida de milhares de brasileiros. Revista ISTOÉ independente, Edição: 2264 (05.Abr.13). Link!
  3. Revista Época: Como reduzimos a probreza: No período democrático, os brasileiros estudaram o tema da miséria, definiram uma estratégia para combatê-la e elegeram governantes capazes de aplicá-las. Todos Pela Educação, 26 de Maio de 2013. Link!

Opiniões contrárias às estratégias governamentais contra a pobreza

Ainda não compiladas aqui, mas elas existem…

Uma questão óbvia:

> Quem paga, como é paga e quando será quitada a conta das bolsas do governo?

Brasil (Im)potência: descaminhos

Por que o Brasil não deslancha? Há muitas razões para nosso atraso, mas destacam-se a politicagem, a corrupção e a qualidade ruim da educação.

 

  • Educação desqualificada
  1. A educação técnica e superior não estão em sintonia com as necessidades do mercado de trabalho:
    > Valor Econômico (SP): A falta de sintonia entre escolas, jovens e empresas: Mona Mourshed, da McKinsey, diz que escolas não fazem pontes para alunos. Todos Pela Educação, 26 de Maio de 2013. Link!
  • Planos estratégicos equivocados
  1. Política Energética
    > R.C. de Cerqueira Leite: O poder do pré-sal. JC e-mail 4725, de 14 de Maio de 2013. Link! Não tenho competência para afirmar (como R.C. de Cerqueira Leite) que a política energética do Brasil está equivocada em sua ênfase no petróleo, mas dá para desconfiar pelo fato dessa fonte de energia ser muito poluente e possuir elevado risco ambiental. Além disso, não é paradoxal que o governo agora venha fazer propaganda para os brasileiros substituirem a gasolina por etanol como combustível para seus automóveis?
    > Editorial do Jornal O Estado de São Paulo de 14/05: Belo Monte, atrasada e cara. JC e-mail 4725, de 14 de Maio de 2013. Link!
    > Marcelo Leite: Pesquisa reforça desconfiança de que novas barragens chegarão ao Xingu. JC e-mail 4725, de 14 de Maio de 2013. Link!

Bom professor? Somente se foi bom estudante…

A professora Jonilda leciona no interior da Paraíba e consegue ensinar Matemática com sucesso. Dentre seus frutos já se contam 22 alunos premiados na Olimpíada Brasileira de Matemática.

Jonilda se destaca como professora, mas acho que ela teve mais mérito por ter sido uma excelente estudante (no seu curso de graduação) – pois foi quando realmente superou o ciclo vicioso do “ensino ruim”:

“Eu aprendi a matemática com o cálculo “pronto”. Quando fui fazer a licenciatura e o curso exigia que eu escrevesse para justificar os cálculos, sofri muito para aprender isso.” [*]

> Fonte: Agência Senado: Com aulas práticas, alunos do interior da Paraíba se destacam em olimpíada de matemática. JC e-mail 4727, de 16 de Maio de 2013. Link!

— II —

O professor João Rosa Borges tem usado com sucesso um método para incentivar alunos a estudar Matemática baseado na promoção dos estudantes com maior redimento. Isso pode ser controverso, mas acho válido.

> Fonte: Correio Brasiliense (DF): Eles são cobras em Matemática: Método motivacional de professor busca despertar maior interesse dos alunos pelos números e cálculos. Todos Pela Educação, 26 de Maio de 2013. Link!

Mundo: A Europa Decadente

Estou transtornado com a Europa. Considerando todo legado de sua história milenar, sua tradição cultural, filosófica, acadêmica, científica e tecnológica, eu esperava que ela seria atualmente a mais importante liderança mundial, exemplo de humanismo e civilidade para todas as nações do mundo. Entretanto, hoje ela está imersa numa profunda crise provocada por imposturas escandalosas na política e na economia.

Não acho que a crise européia atual era inevitável da perspectiva da década de 1990. Na verdade, imagino que a grande maioria das pessoas não contava com o advento de uma crise até que ela eclodiu subitamente em meados de 2006. Contudo, acredito que as tendências decadentes sempre estiveram latentes e floreceram lentamente em instituições e indivíduos corrompidos.

Acredito que a crise na Europa é fundamentalmente de caráter ético. A Europa está desgovernada por lideranças corrompidas, incompetentes e até patéticas. Sua economia está ancorada num capitalismo selvagem, inescrupuloso, desumano. Seus cidadãos estão desnorteados e parecem incapazes de uma articulação politica positiva, que vá além de meras manifestações e protestos raivosos. (Como crianças que fazem birra quando não têm o que querem, dão a impressão de que se lhes derem alguns euros ou doces eles irão para casa plenamente satisfeitos!) Surpreendentemente, já não é difícil imaginar que muitos europeus venham a depositar suas esperanças em personalidades carismáticas com promessas de soluções tão fáceis e imediatas quanto comprometedoras…

A crise ética da Europa é histórica, pois ela sempre relevou a ética. Sua política sempre foi movida pela ganância e grande parte de sua riqueza foi constituida pela exploração de outros povos. Apesar de todo seu avanço no pensamento humanista, os europeus nunca foram realmente constrangidos por princípios éticos em seus embates – prova disso é o fato deles terem protagonizado diversas guerras internas e duas guerras mundiais. A novidade contemporânea é que a Europa está sendo vítima de sua própria depredação política e econômica: os europeus estão se consumindo porque já não têm mais colônias para sugar.

Lamentável, triste e desalentador… Querendo entender, procuro uma explicação para o patrimônio cultural europeu: como os europeus, sendo como são, conseguiram criar suas magnificências culturais? A resposta é simples: os europeus são humanos e em toda humanidade florecem juntos o bem e o mal, a nobreza e a corrupção. Na essência, eu, você e todas as demais pessoas somos como os europeus e eles são como nós: capazes de ações belas e também terríveis.

Enfim, só há uma esperança: que todos sejamos melhores do que sempre fomos.

 — II —

Agora, tudo que foi dito sobre a Europa também se aplica a seu descendente esquizofrênico, os Estados Unidos:

“Nosso modo de criar riquezas injetou tantas toxinas no mundo financeiro e no mundo natural que, em 2008/2009, estas abalaram as próprias fundações de nosso mercados e ecossistemas. Embora possa parecer, superficialmente, que uma coisa não tem relação com a outra, tanto a desestabilização do Mercado quanto da Mãe Natureza têm as mesmas raízes. Eis por que tantoo banco de investimentos Bear Stearns quanto os ursos-polares enfrentaram a extinção ao mesmo tempo. Eis por que o Citibank, os bancos da Islândia e os bancos de gelo da Antártida dereteram todos ao mesmo tempo. A mesma negligência solapou todos eles. Estou falando sobre uma ampla quebra no nível de responsabilidade individual e institucional por parte de atores-chave, tanto no mundo natural quanto no mundo financeiro – além de um profundo mergulho na desonestidade contábil, que permitiu a indivíduos, bancos e firmas de investimento ocultarem ou subestimarem os riscos, privatizarem os lucros e socializarem os prejuízos, sem que o público, em geral, soubesse o que estava acontecendo. É claro que nem todo crescimento verificado nos Estados Unidosou em outros lugares foi fraudulento – longe disso. (…) Mas, pelo menos nos Estados Unidos, uma parte considerável de nosso crescimento econômico não foi inventada; foi tirada dos cofrinhos das crianças e das reservas da Mãe Natureza. Portanto, enquanto sociedade, acabamos vivendo além de nossas posses coletivas.”
Thomas L. Friedman: Quente, Plano e Lotado: os desafios e oportunidades de um novo mundo. Editora Objetiva: Rio de Janeiro, 2010: pp.15-16. (Ênfases acrescentadas)

Globalização do Trabalho

Globalização!

Já foi o tempo em que os estudantes tinham razoável certeza de que poderiam trabalhar na mesma região em que estudavam, mesmo que sua profissão exigisse trabalho presencial.

Atualmente, um brasileiro com formação técnica de nível médio ou superior tem muitas possibilidades para obter emprego, mas elas estão espalhadas pelas cidades, estados do Brasil e países do mundo.

Para um jovem profissional, o mais provável de acontecer é que ele tenha que mudar da cidade natal ou de onde se profissionalizou para conseguir os melhores empregos na sua área, caso não seja possível trabalhar remotamente usando os recursos da Internet ou outro modo de comunicação a distância.

Ainda há fronteiras separando o trabalho dos trabalhadores, mas elas estão sendo reduzidas. Paralelamente ao aumento das oportunidades de trabalho, também tem aumentado a concorrência pelas vagas disponíveis. Talvez o saldo disso seja positivo, tal como  uma maior valorização da competência.

No Brasil, uma das obstruções para os brasileiros obterem trabalho em outros países é a falta de fluência em línguas estrangeira – um dos muitos de nossos problemas educacionais…

A BBC, rede de comunicação inglesa, lançou uma página na Internet com informações sobre “os 20 profissionais estrangeiros mais procurados” por diversos países do mundo. Destacam-se profissionais nas áreas de saúde e engenharias, inclusive tecnologia de informação:

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/04/130326_wanted_migrants_clickable.shtml

São Mateus – ES, 5/04/2013

Atualizações

[27/05/2013] Falando sobre o trabalho nas indústrias de produção de energia eólica, o executivo José Luis Menghini diz que o engenheiro tem que ser fluente em línguas estrangeiras: “Na parte de compras, todas as línguas são importantes, até o russo e o mandarim”; além disso, ele destaca a importância da disposição para viajar: “Não conheço nenhum parque eólico que fique perto da avenida Paulista”. Fonte: Dauro Veras (Valor Econômico): Carreiras que vão de vento em popa. JC e-mail 4727, de 16 de Maio de 2013. Link!

Educação e Liberdade

“Se a educação sozinha não pode tranformar a sociedade,
tampouco sem ela a sociedade muda.”

Paulo Freire (educador brasileiro)

“O aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo
pelo qual a criança cresce para a vida intelectual daqueles que estão ao seu redor.”

Lev Semyonovich Vygotsky (psicólogo russo)

Somos livres? Essa dúvida é legítima, embora possa parecer óbvio que a resposta deva ser positiva. Percebemos a pertinência da pergunta imediatamente ao tentar respondê-la, pois precisamos previamente esclarecer o significado de liberdade – um conceito já demasiadamente profundo…

Filosofia à parte, temos uma compreensão intuitiva do que seja liberdade e desejamos intensamente ser  livres: liberdade é a autonomia da vontade, o poder de escolher e, em particular, decidir o próprio destino. Cabe a questão: Como promover a liberdade, especialmente numa sociedade complexa e ubiqüamente regida por leis? A única resposta plausivel é: educando. A liberdade somente pode ser promovida educando o povo de modo a desenvolver indivíduos autônomos, ou seja, com a capacidade de perceber, compreender e julgar adequadamente seus impulsos e ações e também as estruturas e fatos sociais.

Somente um indivíduo realmente autônomo consegue ser realmente livre, assumindo uma postura crítica e agindo com autenticidade. Idealmente, esse indivíduo descontrói os argumentos dos sistemas de doutrinação, descobre as falácias da propaganda, desvenda as tentativas de manipulação; assim, suas pequenas e grandes escolhas serão sempre expressões de sua idiossincrática personalidade (não por serem exclusivas, mas por não serem imitações e nem o efeito de idéias inculcadas por agentes alheios).

A educação libertadora é (necessita ser) crítica e criativa – e não pode ser de outro modo. O conhecimento não basta: é necessário decidir o que conhecer em função de objetivos que são criados e devem ser criticados. O que pretendemos? Por que queremos uma coisa ao invés de outra? Como devemos alcançar nossos objetivos? Quais são as alternativas? O que é necessário saber para poder fazer…?

Educar é uma ação intrinsecamente sócio-política, eventualmente revolucionária. Num sociedade democrática, a educação libertadora é um imperativo porque a liberdade é uma componente essencial da própria democracia. Geralmente, a qualidade da democracia de um país pode ser medida pelo caráter da sua política educacional oficial. Por isso, a educação é um campo natural de disputas ideológicas envolvendo os diversos segmentos sociais.

Addendum: Opinião de Doris Lessing sobre a Educação

Existe ampla e original literatura sobre a relação entre educação e liberdade. Entretanto, aqui pretendo apenas citar uma opinião interessante sobre o assunto – uma que me impressionou bastante, quando a confrontei pela primeira vez em meados do ano 1999.

Os seguinte excertos foram extraídos do prefácio do livro O Carnê Dourado de Doris Lessing, publicado no Brasil pela Editora Record em 1972. Doris Lessing foi uma escritora francesa do século XX que compôs uma importante obra sobre temas feministas. No prefácio de O Carnê Dourado, Lessing analisa e critica a formação acadêmica de críticos literários na França, denunciando que a academia e outras instituições promovem uma sistemática destruição da criatividade natural e  delimitação da liberdade dos indivíduos. Entendo que sua crítica pode ser justamente extendida aos métodos pedagógicos e instrucionais vigentes em nossas instituições de ensino.

 

“Como na esfera política, ensina-se a criança que ela é livre, é uma democrata, dispondo de vontade própria e mente livre, morando num país livre, e podendo tomar suas próprias decisões. Ao mesmo tempo, ela é prisioneira das suposições e dos dogmas de sua época, que ela não questiona, porque nunca lhe disseram que eles existiam. Quando um jovem chega à idade em que precisa escolher (continuamos a aceitar sem discutir que a escolha é inevitável) entre as artes e as ciências, ele costuma escolher as artes porque julga que nesse campo há humanidade, liberdade e opção. Ele não sabe que já se emoldurou ao sistema, não sabe que a própria escolha é resultado de uma falsa dicotomia enraizada no coração de nossa cultura. Os que o percebem e que não querem submeter-se a mais padrões, tendem a ir embora, num esforço meio inconsciente e instintivo de encontrar trabalho onde eles, como pessoas, não serão divididos entre si mesmos. Com todas as nossas instituições, que vão desde a polícia até a academia, desde a medicina até a política, prestamos pouca atenção às pessoas que se afastam, formando aquele processo de eliminação que prossegue sem cessar e que exlui, muito cedo, os que são originais e reformadores, deixando os atraídos para uma coisa que é isso que eles já são. Um jovem policial abandona a polícia porque afirma não gostar do que tem de fazer. Um jovem professor abandona o ensino e repele o seu idealismo. Este mecanismo social ocorre quase sem ser percebido, mas é uma força poderoa na manutenção rígida e opressiva de nossas instituições.”
“Talvez não exista outra maneira de educar as pessoas. Possivelmente, mas não acredito. Nesse ínterim seria útil pelo menos descrever adequadamente as coisas, chamar as coisas por seus nomes corretos. Idealmente, o que se deveria dizer a toda criança, repetidamente, durante toda a vida escolar é algo  mais ou menos assim: ‘Você está no processo de ser doutrinado. Ainda não criamos um sistema de educação que não seja um sistema de doutrinação. Lamentamos, mas estamos fazendo o melhor que podemos. O que lhe estão ensinando aqui é um amálgama dos preconceitos atuais e das opções desta nossa cultura. A consulta mais ligeira à história revelará que aqueles dois itens são temporários. Você está sendo ensinado por pessoas que conseguiram acomodar-se a um regime de pensamentos transmitido por seus predecessores. É um sistema autoperpetuador. Os que, dentre vocês, são mais vigorosos e individuais do que os demais, serão incentivados a ir embora e a encontrar maneiras de se educar, educando seu próprio julgamento. Os que ficarem devem sempre lembrar, sempre, em todas as ocasiões, que estão sendo amoldados para se enquadrar nas tímidas e específicas necessidades desta determinada sociedade.’ “
Doris Lessing, junho de 1971: Prefácio de O Carnê Dourado. Editora Record, 2a. edição. Rio de Janeiro, 1972.

Ciência e Magia

“Existe algo que une a bruxaria e a ciência aplicada ao mesmo
tempo que as separa da ‘sabedoria’ dos tempos antigos.”
C.S. Lewis (escritor inglês)

Ciência e magia possuem algo em comum? Afinal, quais são as semelhanças e quais as diferenças entre elas?

Magia (segundo o Dicionário Houaiss): “arte, ciência ou prática baseada na crença de ser possível influenciar o curso dos acontecimentos e produzir efeitos não naturais, irregulares e que não parecem racionais, valendo-se da intervenção de seres fantásticos e da manipulação de algum princípio controlador oculto supostamente presente na natureza, seja por meio de fórmulas rituais ou de ações simbólicas metodicamente efetuadas.

Embora possa parecer simplório que a ciência e a magia possuam alguma semelhança, a idéia é passível de ser discutida seriamente.

Como ilustração da continuidade histórica entre a ciência moderna e as concepções mágicas lembro que os primódios da química são herança da alquimia – um complexo sistema de crenças, conhecimentos e práticas medievais geralmente usados com objetivos quiméricos, tais como encontrar a Pedra Filosofal (substância que teria a capacidade de transformar tudo em ouro).

A semelhança essencial entre a ciência e magia é a crença em princípios/leis universais bem como o conhecimento de técnicas eficientes para manipular a natureza – as diferenças estão na forma e no conteúdo dessa crença. O cientista acredita na regularidade da natureza, na perpetuação das propriedades da matéria – então, ele elabora conceitos, desenvolve processos e constrói máquinas que o permitem alcançar resultados específicos; o mago acredita na existência de espíritos, na unidade orgânica do universo, na influência simpática – então, ele elabora conceitos e executa feitiços que o permitem alcançar resultados específicos. O cientista e o mago, como a maioria (se não totalidade) das pessoas, são semelhantes também neste aspecto: ambos buscam o poder através do uso dos recursos disponíveis,  sejam eles naturais ou sobrenaturais.

A distinção essencial entre a ciência e a magia está na forma (metodologia) e no conteúdo (ontologia) das suas crenças.

Ontologicamente, a ciência é naturalista, i.e., procura explicar/descrever os fenômenos mediante conceitos puramente materiais (matéria, energia, tempo e movimento, etc.). Já a magia é espiritualista pois assume a existência de uma realidade supranatural capaz de influenciar o transcurso dos acontecimentos mundanos, deliberadamente ou mediante estímulo.

O método científico é autocrítico e caracterizado pela experimentação: as teorias científicas devem ser comprovadas para serem aceitas como descrições fidedignas da realidade, sendo que as inadequações são investigadas para serem corrigidas. Contrariamente, a magia fundamenta seus conhecimentos em tradições e sua prática tem a forma de feitiços, cuja eficácia não é sistematicamente questionada: geralmente, os feitiços não são desacreditados por deixarem de produzir os efeitos esperados: suas falhas são sumariamente descartadas ou recebem interpretações post hoc.

Penso que há mais verdade na ciência do que a magia exatamente porque as leis científicas não são presumidas verdadeiras antes de serem aprovadas por um sistemático confronto experimental com a realidade; na verdade, o conhecimento científico não é considerado definitivo, senão passível de contínuo aperfeiçoamento.

Finalmente, o longo percurso histórico seguido pela humanidade desde a invenção da escrita até o advento da ciência moderna mostra que a ontologia e o método científicos não são ideias espontâneas da mente humana. Testemunha disso é o fato de que muitas superstições persistem atualmente apesar delas serem contrariadas pelo conhecimento científico acumulado (até certo ponto, pelo menos).

Indico este texto sobre a relação entre ciência e magia:

  • J.M. Smith: Science and Myth. Natural History Vol. 93, No.11 (November 1984): pp.11-24.

Termino citando a opinião de um pensador que não foi cientista, C.S. Lewis:

“O fato de os cientistas terem obtido sucesso onde o bruxo fracassou ergue entre eles um contraste tão forte no imaginário popular que a verdadeira história do nascimento da ciência acaba por ser mal compreendida. É possível encontrar até mesmo quem escreva sobre o século XVI dizendo que a bruxaria era então um resquício medieval e qu a ciência entrava em cena para expulsá-la. Os que estudaram o período certamente são mais dignos de confiança. Havia muito pouca bruxaria durante a Idade Média: os séculos XVI e XVII foram a época de esplendor dessa prática. O grande esforço da bruxaria e o grande esforço científico são irmãos gêmeos: um deles era doente e morreu, o outro era forte e sobreviveu. Reconheço que alguns (certamente não todos) dos primeiros cientistas eram movidos por um genuíno amor pelo conhecimento. Mas, se analisarmos o feitio daquela época como um todo, poderemos distinguir o impulso al qual me refiro. Existe algo que une a bruxaria e a ciência aplicada ao mesmo tempo que as separa da ‘sabedoria’ dos tempos antigos. Para os sábios da antiguidade, o problema principal era como conformar a alma à realidade, e a solução encontrada foi o conhecimento, a autodisciplina e a virtude. Tanto para a bruxaria quanto para a ciência aplicada, o problema é como subjugar a realidade aos desejos dos homens, e a solução encontrada foi uma técnica; e ambas, ao praticarem essa técnica, se põem a fazer coisas até então consideradas repulsivas e impiedosas – tais como desenterrar e retalhar cadáveres.”
C.S. Lewis: A abolição do homem – 2a. edição. Editora WMF Martins Fontes: São Paulo, 2012: pp.72-73.

São Mateus – ES, 31/03/2013

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“País tropical”, até quando?

“Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”, mas isso vai acabar em pouco tempo se depender dos brasileiros, particularmente dos parlamentares da bancada ruralista do Congresso e daqueles que os apoiam…

Destruição Ambiental

A Mata Atlântica está quase completamente destruída! O Pantanal, o Cerrado, a Caatinga, a Floresta Amazônica e outros biomas do Brasil estão ameaçados de sofrer destruição semelhante.

Os fatores da degradação ambiental são diversos, alguns simples, outros complexos: a dimensão da população humana na Terra, os instintos humanos, as culturas, os problemas sociais, a economia, a política, o descaso…

No cenário atual, quais biomas do Brasil podem resistir a sua aniquilação antropogênica?

Parece que a Floresta Amazônica não pode resistir:

“A biodiversidade amazônica está sendo destruída porque não tem suficiente valor econômico para os amazônidas, os brasileiros ou o mundo.”
“Com o avanço da soja, da pecuária e do setor madeireiro na Amazônia, a biodiversidade está cada vez mais ameaçada.”
“Hoje, a soja e a pecuária estão expandindo suas presenças na Amazônia, tanto sobre áreas já desmatadas quanto sobre áreas florestadas. Por que a tão falada biodiversidade da Amazônia não está expandindo a sua presença nos mercados? A razão é simples: não houve suficiente investimento em Ciência &Tecnologia e Pesquisa&Desenvolvimento&Inovação ao longo das últimas décadas para desenvolver as cadeias de produção dos recursos biogenéticos da Amazônia, diferente do que ocorreu com a soja, por exemplo.”
Charles R. Clement et. al. [Cl2013]

Código Florestal

O novo Código Florestal tem sido discutido a mais de uma década pelo Congresso, sem que se tenha chegado a um razoável consenso. Naturalmente, o conflito de interesses impede que haja acordo: alguns querem preservar os recursos naturais, outros querem preservar o patrimônio pessoal, prologar o uso dos métodos de exploração depredatórios, etc. Dentre os ítens polêmicos do Código Florestal, cabe destacar a anistia para quem infringiu a lei por desmatar até julho de 2008. Embora exista margem para discussão sobre esse dispositivo, o fato é que ele (se for aprovado) beneficiaria alguns (talvez muitos) grandes proprietários de terra que são verdadeiros “criminosos ambientais”. O dispositivo foi vetado pela Presidente Dilma e é considerado inconstitucional pela Procuradoria Geral da República; contudo, parece que não há limites para as tentativas de garantir os interesses pessoais no nível da legislação, pois a bancada ruralista tenta derrubar os vetos, a despeito disso significar a legalização da impunidade e constituir uma violação a Constituição.

Mesmo os ruralistas devem buscar o bem comum e concordar com Constituição Federal, que diz no seu Artigo 225 do Capítulo VI (Do Meio Ambiente): “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público o dever de defendê-lo para as presentes e futuras gerações.” [Link! 24/02/2013]

Cabe destacar a posição da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC), representadas pelos seus respectivos presidentes Helena B. Nadder e Jacob Palis:

“Os vetos da presidenta atenderam, em parte, as reivindicações e contribuições da comunidade científica, entre as quais a garantia de inclusão social no campo, a correção da definição de pousio, o reconhecimento de que as várzeas, salgados e apicuns são áreas de preservação permanente, o impedimento do uso isolado de árvores frutíferas na recomposição de áreas de preservação permanente e o estabelecimento de regras diferenciadas para a recomposição das margens de rios, de acordo com o tamanho da propriedade.” [NP2013]

Algumas matérias:

Referências

[Cl2013] Charles R. Clement et. al.: Uma Revolução Beckeriana para a biodiversidade brasileira. JC e-mail 4683, de 13 de Março de 2013. Link!

[NP2013] Helena B. Nadder (Presidente da SBPC), Jacob Palis (Presidente da ABC) em carta enviada aos congressistas em devesa dos vetos do novo Código Florestal. JC e-mail 4681, de 11 de Março de 2013. Link!

Addendum

Desconstrução Ambiental

E pensar que

já houve uma floresta
onde hoje existe um deserto,

um lixão ou uma favela*…


(Afinal, toda degradação ambiental

é apenas ponto intermediário:

o processo sempre começa e termina no nível social.)

 

[*favela no sentido pejorativo de comunidade humana insalubre, desestruturada, degradada. Cabe registrar que o Brasil hoje possui muitas comunicades chamadas favelas mas que possuem outro tipo de perfil ecosocial.]

[Imagens obtidas na Internet! Os créditos são devidos aos seus autores…]

São Mateus-ES, Fevereiro de 2013

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